As várias faces da mulher brasileira
Pesquisa revela quem são e como
pensam as brasileiras hoje e qual será o futuro delas em um país cada vez mais
feminino
As profundas transformações socioeconômicas pelas
quais o Brasil passou nas últimas décadas tiveram como protagonistas as
mulheres. De 1992 até 2012, mais mulheres passaram a frequentar escolas e a
trabalhar com carteira assinada, ajudando, assim, a fortalecer a economia do
País. Hoje, elas já representam 40% da massa de renda total dos brasileiros ?
há 20 anos, essa participação não chegava a 30%. Desde 2002, a renda feminina
no Brasil cresceu 62%, ao passo que a dos homens cresceu 39% (leia quadro na página
79). Além dos avanços sociais, a maioria das brasileiras sonha abrir seu
próprio negócio. Elas também valorizam a independência financeira, ao mesmo
tempo que associam felicidade à formação de uma família. Grande parte ainda se
apega à religião como norte do desenvolvimento moral, porém sem se esquecer que
a vida real exige uma tolerância maior do que a pregada pela maioria das
crenças. Apesar de todos esses pontos em comum, no entanto, as brasileiras
podem ser muito diferentes entre si, segundo revela uma recente pesquisa
realizada pelo instituto Data Popular, em parceria com o projeto Tempo de
Mulher.
Após ouvir 1,3 mil mulheres em 44 cidades do País,
o estudo identificou os cinco perfis mais comuns entre as brasileiras. Em
primeiro lugar, representando 25% das mulheres do Brasil, estão as
conservadoras. São pessoas acima dos 50 anos, em sua maioria aposentadas (44%
delas), ou donas de casa (28%), casadas (54%) ou viúvas (32%), católicas (59%),
com baixa escolaridade e mais conservadoras em suas opiniões. Elas valorizam a
religião, não estão propensas a aceitar relações homoafetivas, acreditam menos
no poder de seu voto e são mais pessimistas que a média. Tão representativas
quanto as conservadoras estão as tradicionais, que também correspondem a 25% das
mulheres do País. Para essas brasileiras, a religião é, sim, muito importante,
porém elas são mais tolerantes em relação às uniões homoafetivas, valorizam
mais a independência financeira feminina e são mais otimistas. O perfil das
tradicionais é o de a uma mulher de meia-idade (entre 40 e 50 anos), casada
(69% delas), que estudou até o ensino médio (69%) e tem o trabalho como sua
prioridade.
Em terceiro lugar chegam as promissoras, mulheres
jovens de até 34 anos, com alta escolaridade (uma em cada três tem ensino
superior), que trabalham, são conectadas à internet e se preocupam com o corpo
(38% frequentam academias). São brasileiras independentes financeiramente e que
valorizam a carreira ? para elas, felicidade não é apenas constituir família.
As promissoras em geral também são menos conservadoras, aceitam as relações
homoafetivas e possuem menos apreço pela religiosidade. Valores parecidos com
aqueles defendidos pelas desprovidas, o quarto maior grupo entre as brasileiras
(16%). Como o próprio nome diz, as desprovidas são mulheres bem jovens (metade
delas tem até 24 anos), concentradas nas classes com menor renda, que não
trabalham (73%), mas que, apesar da pouca idade, já têm ao menos um filho.
Embora estejam em uma condição financeira ruim, elas têm mais vontade de
empreender do que a maioria, valorizam muito a independência feminina e aceitam
a diversidade sexual. O quinto perfil mais comum é o das lutadoras, que
correspondem a 15% das brasileiras. Com 25 a 49 anos, separadas ou viúvas
(51%), economicamente ativas (77%) e em esmagadora maioria chefes de família
(95%), essas mulheres representam o futuro das desprovidas. Geralmente se
tornaram mães cedo, tiveram de parar os estudos, mas depois retomaram a
educação e hoje batalham para sustentar a família. Elas são religiosas,
valorizam o empreendedorismo e priorizam a família.
Mas como serão as mulheres no Brasil do futuro?
Segundo a pesquisa, a próxima geração de brasileiras promete ser menos
conservadora ? apenas 1% delas terão esse perfil. As promissoras representarão
35% do total de mulheres, enquanto as lutadoras chegarão a 30%. Em terceiro
lugar estarão as tradicionais (28%) e em quarto as desprovidas (6%). A maioria
das futuras brasileiras também valorizará mais a independência financeira
feminina, considerando a educação e o trabalho como os passaportes para essa
independência. ?O interessante do Brasil é ver o quão rápido essas
transformações sociais acontecem. Em apenas dez anos o perfil das brasileiras
mudou muito e mudará mais ainda na próxima década?, diz Renato Meirelles,
sócio-diretor da Data Popular.
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