"Os investidores falavam que estávamos loucos", diz fundador da Airbnb
Em entrevista exclusiva à DINHEIRO, o americano Brian Chesky, CEO e fundador da Airbnb, a nova sensação do Vale do Silício, relembra o começo difícil e fala dos seus planos para a empresa, inclusive no Brasil
Por Bruno GALO, enviado especial a São Francisco
Não foram só os investidores que duvidaram da sanidade de Brian Chesky. Quando ele e seus amigos Nate Blecharczyk e Joe Gebbia fundaram a start-up Airbnb, até a mãe de Chesky achou que ele estava louco. Poucos imaginariam que, passados menos de quatro anos, a Airbnb não só se tornaria a nova sensação do Vale do Silício como a start-up símbolo de um movimento bilionário, a economia do compartilhamento, que já atrai grandes investidores e empresas, como Peugeot e Ford. A ideia central aqui é de uma nova forma de consumo em que o acesso a produtos e serviços supera a posse deles, e sem as preocupações ligadas à propriedade.
A Airbnb, por exemplo, construiu uma plataforma online, integrada ao Facebook, em que reservar um quarto na casa de um completo estranho em mais de 19 mil cidades espalhadas por quase 200 países é tão fácil quanto encontrar um quarto em um grande hotel. As reservas podem ser feitas pela web ou por aplicativos para iPhone e Android. Recentemente, a revista americana Fast Company a elegeu como uma das empresas mais inovadoras do mundo por “transformar quartos vagos nas casas das pessoas na rede de hotéis mais quente do mundo”.
Nesta entrevista exclusiva à DINHEIRO, Chesky relembra o começo difícil, como quando eles criaram e venderam caixas de cereais estampadas com o desenho do então candidato à Presidência americana Barack Obama ou do seu rival John McCain, com o intuito de fazer algum dinheiro, e fala dos seus planos para a empresa, inclusive no Brasil.
O americano Brian Chesky, fundador e CEO da Airbnb.
DINHEIRO – Como surgiu a ideia da Airbnb?
CHESKY – Não foi algo que planejamos para ser uma startup ou um negócio. Nós precisávamos fazer algum dinheiro e houve uma feira internacional de design em São Francisco em 2007, que acabou lotando os hotéis da cidade. Decidimos oferecer cama e café da amanhã para quem estivesse interessado em nosso apartamento. Como, infelizmente, não tínhamos camas, oferecemos colchões de ar. Nós chamamos de Airbnb (abreviação para camas de ar e café da manhã, em inglês). O site foi lançado apenas em agosto de 2008. Hoje, a maioria dos nossos usuários não oferece café da manhã. A ideia central é que você pode reservar lugares únicos de pessoas reais ao redor do mundo. Hoje temos cabanas, aviões, castelos, casas nas árvores, ilhas, iglus, cavernas, apartamentos, barcos, etc. E desde então isso se tornou um movimento.
DINHEIRO – E por que você acha que o modelo deu certo?
CHESKY – Criamos a Airbnb para resolver um problema nosso. E acontece que milhões de pessoas ao redor do mundo não sabiam, mas tinham o mesmo problema. Quer dizer, elas tinham esse espaço disponível e sem ser usado. Já outras pessoas buscavam uma experiência mais pessoal e local quando viajavam. Acontece que isso faz parte de um grande movimento de uma nova economia em que compartilhamos coisas com as outras pessoas e fazemos dinheiro com isso. E ninguém tinha pensado nisso antes. Ou, se pensou, achou que era loucura, como basicamente os primeiros fundos de investimentos que procuramos ainda em 2008.
DINHEIRO – Qual sua opinião sobre empresas que copiam o modelo de negócio criado por vocês, como a Windu, da incubadora alemã Rocket Internet?
CHESKY – Acho que você copia um modelo, mas não uma comunidade. Nós começamos um movimento e isso não pode ser copiado. Somos os líderes absolutos em todos os países, inclusive na Alemanha. Eles podem copiar o que já fizemos, mas não o que ainda vamos fazer. Estamos construindo o amanhã. Por isso, eles estarão sempre pelo menos um passo atrás. Acreditamos no que estamos construindo e que podemos ajudar a mudar o mundo de certa forma. Eles são mercenários. Mas há empresas expandindo o nosso modelo para novas áreas. Há uma start-up “tipo Airbnb” para quase tudo que você imaginar. E isso é algo muito bom a meu ver.
DINHEIRO – Qual a importância das redes sociais e os dispositivos móveis para o sucesso da Airbnb?
CHESKY – Cada vez mais o acesso das pessoas à internet será por meio de aparelhos móveis. Por isso, mesmo que o seu produto ou negócio não tenha nada de móvel, você tem que estar presente lá. Para nós, cujo usuário está geralmente viajando, acessando a internet por meio de smartphones e tablets, é um grande canal. E somos uma empresa social, estamos integrados ao Facebook, que é algo muito importante. A ideia da economia do compartilhamento é totalmente centrada na confiança entre as pessoas. É uma moeda de troca extremamente valiosa.
DINHEIRO – O que é mais importante para o sucesso da Airbnb no longo prazo?
CHESKY – As pessoas. São elas que constroem a empresa e a tecnologia. E cada funcionário precisa saber que o que faz é importante para o todo, pois a pior coisa é sentir que o seu trabalho não é importante. E não quero que ninguém se sinta assim aqui. Somos uma empresa jovem e estamos apenas começando, mas acredito que o mais importante para o nosso futuro é investirmos em encontrar as melhores pessoas do mundo que se encaixam na nossa cultura e mantê-las felizes e desafiadas. Hoje somos muito mais fortes do que quando começamos. E buscamos pessoas que estejam realmente apaixonadas por construir essa empresa.
DINHEIRO – Qual a importância de ter investidores como Marc Andreessen (fundador do Netscape) e Reid Hoffman (fundador do Linkedin)?
CHESKY – É sensacional ter empreendedores tão bem sucedidos entre os nossos investidores. Quando somos procurados por fundos de capital de risco o que nos interessa é ter parceiros e não apenas dinheiro. Marc trouxe Jeff Jordan para ser nosso conselheiro e embora não seja um empreendedor, ele é um executivo que transforma start-ups como nós em grandes empresas. Ele fez isso com o eBay, PayPal e Open Table, site de reserva de restaurante.
DINHEIRO – No começo foi difícil conseguir investidores?
CHESKY - Sim. Chegamos a vender caixas de cereais matinais (com as imagens do então candidato à Presidência americana Barack Obama e seu concorrente John McCain) para levantar algum dinheiro no início. Foi algo que deu muito resultado numa época em que ninguém nos conhecia. Todos os principais veículos de mídia dos Estados Unidos fizeram matérias sobre essas caixas de cereais.
DINHEIRO – Como foi construir uma start-up bilionária tão rápido?
CHESKY – Essa é uma resposta de US$ 1 bilhão (sorri). Falando sério, não tenho a receita. Mas acho que um caminho é fazer algo que resolva um problema real e encontrar pessoas incríveis e inteligentes para lhe ajudar. Foque em fazer algo que um número pequeno de pessoas ame muito. E trabalhe para que elas se tornem embaixadoras do seu produto. Faça coisas que não escalem fácil ou rápido demais. O mais importante é ser melhor a cada dia e não apenas crescer a cada dia. Estes são alguns dos meus conselhos. Olhando para trás, estou feliz que não tenhamos crescido rápido no início. Demoramos mais de um ano para atingir 100 mil reservas. E mais um ano e meio (ou seja, dois anos e meio no total), para chegar ao primeiro milhão de reservas. No ano seguinte, atingimos 5 milhões de reservas. Fazer algo verdadeiramente valioso demora.
DINHEIRO – Mas qual a maior fraqueza da Airbnb?
CHESKY – Vejo nossas fraquezas como desafios e oportunidades. Criamos não só uma empresa, mas um novo modelo de negócio. Não há um manual sobre o que estamos construindo. Muito do que fazemos nunca foi feito antes. E acho que apenas começamos a tocar a superfície desse negócio e ainda podemos ir muito mais fundo nisso em nosso modelo e no que oferecemos.
DINHEIRO – Mas vocês tiveram alguns problemas com usuários mal-intencionados, certo?
CHESKY – Não controlamos 100% da experiência. Somos a plataforma que permite que as pessoas se encontrem. E tudo que acontece dentro da nossa plataforma é aprendizado. Temos hoje atendimento 24 horas por dia em todo o mundo. Aprendemos que precisamos oferecer algum tipo de garantia para os proprietários e hoje nós já oferecemos. Aprimoramos nossos mecanismos de segurança. E o mais importante para mim é que estamos construindo algo de longo prazo, que vai perdurar muito além dessa geração.
DINHEIRO – Quais os seus planos específicos para o Brasil?
CHESKY – O Brasil é uma das nossas prioridades para 2012. Somos e queremos cada vez mais ser uma plataforma global. E fazer sucesso no Brasil é uma parte muito importante do nosso plano. Acreditamos que o Brasil pode ser um dos maiores mercados para nós no mundo. Provavelmente, um dos cinco maiores no futuro. Hoje, para nós está entre os dez ou 15 maiores dependendo do mês. Acredito que os grandes eventos, como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, com os hoteis lotados, serão duas grandes oportunidades para nós. Ainda não encontrei tempo, mas quero muito visitar o Brasil.
DINHEIRO – Qual o papel da Airbnb na evolução da internet?
CHESKY – Entendo que a primeira onda da internet foi trazer as pessoas online. E a segunda onda foi juntar essas pessoas que estavam conectadas. Hoje, vivemos uma terceira onda que é trazer essas pessoas que estão juntas e online para o mundo real. E é exatamente isso o que nós fazemos. Estamos ajudando a construir essa inteiramente nova economia em que as pessoas compartilham coisas e têm acesso ao que precisam criando e fortalecendo as conexões locais. É algo que acredito ser realmente revolucionário. De certa forma, é uma volta às nossas origens. Quando disse à minha mãe sobre o que estávamos fazendo, ela disse que eu estava louco. Mas quando conversei com meu avô, ele disse que fazia sentido para ele. Nós não inventamos o compartilhamento. Ele está aí há muitas gerações. Mas as redes sociais e os dispositivos móveis estão criando formas completamente novas e sofisticadas de compartilharmos coisas. É essencialmente algo bastante simples. É tão simples que ultimamente me perguntam com muita frequência: por que eu acho que ninguém inventou isso antes? E eu respondo: porque as pessoas achavam loucura. Muitos investidores falavam que estávamos loucos e que ninguém ia topar fazer o que propúnhamos. Felizmente, eles estavam errados. Mas não acho que somos visionários, estávamos apenas resolvendo o nosso problema. E, no caminho, acabamos criando algo novo.
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